2 de dezembro de 2025

Pagamentos não divulgados ameaçam a psiquiatria

Falta de transparência em pagamentos afeta confiança e integridade na pesquisa psiquiátrica. Saiba os riscos e o que fazer.

Pagamentos não divulgados ameaçam a psiquiatria

Transparência financeira na psiquiatria em xeque

Quando 14% de um total de US$ 4,5 milhões em pagamentos a autores de periódicos líderes não aparece nas declarações, o alarme é inevitável. Pagamentos não divulgados em psiquiatria — com 25% de omissões no JAMA Psychiatry e 7,5% no American Journal of Psychiatry, concentrados sobretudo entre os 10 maiores recebedores — colocam a transparência em periódicos científicos sob intensa escrutínio. O problema é especialmente sensível para quem conduz ensaios clínicos de fármacos, onde o conflito de interesse em pesquisa pode distorcer decisões, recomendações e a adoção de novas tecnologias.

Para profissionais de saúde no Brasil, o sinal é claro: precisamos reforçar processos de disclosure, auditoria e compliance médico nas equipes e serviços, além de uma leitura crítica redobrada de artigos que embasam protocolos e incorporação de terapias. Nesta introdução, destacamos a gravidade do achado e por que ele ameaça a confiança na pesquisa clínica em saúde mental.

Ao longo do desenvolvimento, vamos analisar o impacto dessa falta de transparência na credibilidade dos estudos, nos riscos de vieses na prática assistencial e nas lições aplicáveis ao contexto brasileiro, com exemplos práticos de governança e due diligence editorial. Concluiremos com recomendações objetivas para fomentar a integridade na pesquisa clínica, incluindo mecanismos de fiscalização e políticas institucionais rigorosas para preservar a confiança da comunidade assistencial e dos pacientes.

Impacto da falta de transparência nos conflitos de interesse

Como mostramos na introdução, quando pagamentos não divulgados em psiquiatria somam 14% de US$ 4,5 milhões — com 25% no JAMA Psychiatry e 7,5% no AJP, concentrados nos 10 maiores recebedores — a confiança balança. Essa assimetria de informação corrói a transparência em periódicos científicos e amplia o conflito de interesse em pesquisa: incentivos financeiros não revelados podem influenciar o desenho de ensaios, a seleção de desfechos e a interpretação de resultados, impactando revisões, editoriais e diretrizes clínicas que embasam a prática.

Na assistência, o risco concreto é a adoção prematura de novos fármacos ou tecnologias com benefício superestimado e eventos adversos subnotificados. Exemplo prático: se investigadores-chave de um antipsicótico omitem vínculos com o fabricante, cresce a probabilidade de viés de reporte e de recomendação, reverberando em protocolos hospitalares e decisões de incorporação. Para mitigar, profissionais podem: verificar declarações ICMJE e fontes de financiamento; conferir registro de ensaios (ClinicalTrials.gov/REBEC); e, quando cabível, confrontar COIs com bases de pagamentos (Open Payments nos EUA; relatórios de transparência da Interfarma no Brasil).

Para o Brasil, as lições são objetivas: fortalecer o compliance médico com políticas claras e auditáveis de conflito de interesse; criar comitês independentes para avaliar evidências antes de atualizar protocolos; e adotar due diligence editorial (cross-check de COIs e sanções para omissões). Essa governança prepara o terreno para as recomendações de fiscalização que detalharemos na conclusão.

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Fomentando a integridade na pesquisa clínica

Como detalhamos na introdução e no desenvolvimento, os pagamentos não divulgados em psiquiatria (14% de US$ 4,5 milhões, com 25% no JAMA Psychiatry e 7,5% no AJP, concentrados nos 10 maiores autores) impõem um alerta: sem fiscalização e políticas firmes, a confiança na evidência se desfaz. Para mitigar o conflito de interesse em pesquisa e fortalecer a transparência em periódicos científicos, é hora de traduzir princípios em rotinas auditáveis.

Ações prioritárias: (1) Instituições e serviços adotarem compliance médico robusto, com política de COI padronizada, registros públicos atualizados e auditorias independentes; (2) Periódicos exigirem registro prévio de ensaios, plano de análise, compartilhamento de dados e checagem cruzada de COIs com bases como Open Payments (EUA) e relatórios de transparência da indústria (Interfarma), aplicando correções/retrações quando houver omissão, conforme ICMJE/COPE; (3) Comitês de incorporação e diretrizes no Brasil operarem com membros isentos, critérios de impedimento e pareceres públicos; (4) Clínicos manterem leitura crítica: verificar financiamento e COIs, priorizar sínteses independentes, aguardar replicações e monitorar farmacovigilância antes da adoção ampla de novos fármacos.

Em síntese, fiscalização ativa e políticas claras sustentam a integridade na pesquisa clínica em saúde mental e preservam a confiança da comunidade assistencial e dos pacientes na ciência publicada.

Fonte: https://www.statnews.com/pharmalot/2025/12/01/psychiatry-journals-conflicts-undisclosed-payments/

Escrito por
Dr. Marcos Ladeira
Dr. Marcos LadeiraOrtopedista e Traumatologista
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