5 de dezembro de 2025

Lancet destaca ultraprocessados e Guia Alimentar no Brasil

Nova edição da Lancet aborda ultraprocessados, doenças crônicas e políticas públicas, com experiência brasileira em destaque.

Lancet destaca ultraprocessados e Guia Alimentar no Brasil

Introdução: Avanço do debate sobre ultraprocessados no Brasil

Quando a ciência passa a falar a nossa língua, a prática muda. Com o lançamento, pelo Ministério da Saúde, da edição especial da The Lancet em português, o debate sobre alimentos ultraprocessados no Brasil ganha densidade e alcance entre profissionais de saúde. A série, construída por dezenas de especialistas internacionais, reúne evidências robustas que associam o alto consumo desses produtos ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis e reforça o protagonismo do Guia Alimentar brasileiro, que desde 2014 orienta a restrição de ultraprocessados. Também traz exemplos concretos de políticas públicas de alimentação, como o PNAE, e aponta caminhos para ações intersetoriais.

Para médicos, nutricionistas, psicólogos e equipes de saúde, o acesso em português amplia o uso prático do conteúdo em educação em saúde, prescrição alimentar, protocolos institucionais e integração com estratégias de saúde digital. Esta publicação sintetiza dados recentes, opiniões de referência e experiências brasileiras que já inspiram diretrizes globais, oferecendo material técnico para qualificar o aconselhamento clínico e a atuação coletiva.

Nos próximos tópicos, vamos detalhar as evidências científicas sobre riscos e desfechos em saúde, destacar como o Guia Alimentar brasileiro e políticas públicas de alimentação vêm orientando respostas no SUS, e traduzir essas recomendações em orientações objetivas para a prática clínica e a gestão de programas de saúde.

Evidências científicas e impacto dos ultraprocessados na saúde

Como antecipado na introdução, a série da Lancet em português consolida achados que ampliam a segurança para orientar prática clínica e gestão no SUS. No contexto dos alimentos ultraprocessados no Brasil, revisões e coortes de grande porte (NutriNet-Santé, UK Biobank, ELSA-Brasil) mostram associação consistente entre maior consumo e risco aumentado de mortalidade precoce, ganho de peso/obesidade, diabetes tipo 2, depressão e alguns cânceres — conjunto que compõe as doenças crônicas não transmissíveis. Sínteses do NUPENS/USP indicam relação com mais de 30 desfechos adversos; análises sobre infância (UNICEF) acrescentam pior qualidade da dieta, excesso de peso e outras formas de má nutrição.

A publicação destaca o pioneirismo do Guia Alimentar brasileiro e sua classificação NOVA, que recomenda evitar ultraprocessados e priorizar alimentos in natura e minimamente processados. Entre as políticas públicas de alimentação, o PNAE tem fortalecido a oferta de preparações baseadas em alimentos frescos e a restrição de ultraprocessados no ambiente escolar, inspirando medidas em outros territórios.

Implicações práticas para equipes: 1) rastrear o consumo com perguntas-chave e recordatório de 24h focado em bebidas açucaradas, snacks, embutidos e produtos prontos; 2) aconselhamento breve com trocas factíveis (fruta e castanhas por biscoitos; iogurte natural por lácteos adoçados); 3) metas graduais e acompanhamento digital (apps/teleatendimento com classificação NOVA); 4) prescrição culinária e articulação com NASF/academias da saúde; 5) advocacy local para cantinas e compras públicas alinhadas ao PNAE e à rotulagem nutricional frontal. Essas ações conectam evidência, clínica e políticas, preparando o terreno para as recomendações operacionais que discutiremos na sequência.

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Conclusão: O papel do conhecimento científico no fortalecimento de práticas e políticas

A disponibilização em português da série da The Lancet marca um ponto de virada no debate sobre alimentos ultraprocessados no Brasil. Como discutido nas seções anteriores, o corpo de evidências consolida a associação com doenças crônicas não transmissíveis e legitima o protagonismo do Guia Alimentar brasileiro, ao mesmo tempo em que reforça a importância de políticas públicas de alimentação – com destaque para o PNAE – como ferramentas estruturantes do cuidado e da prevenção.

Na prática, o acesso a esse conhecimento em nossa língua facilita a padronização de protocolos clínicos, a educação em saúde e a integração da classificação NOVA a prontuários e teleatendimento. Para equipes do SUS e da saúde suplementar, recomenda-se:

  • Rastrear e documentar o consumo de ultraprocessados nas consultas, definindo metas graduais e substituições factíveis.
  • Prescrever preparações culinárias e promover grupos educativos, articulando APS, NASF e redes de apoio social.
  • Fortalecer ambientes alimentares saudáveis em escolas e serviços, alinhando cantinas, compras e contratos ao PNAE e à rotulagem frontal.
  • Atuar em advocacy por regulações intersetoriais (marketing para crianças, tributação de bebidas açucaradas e compras públicas de alimentos in natura).

O próximo passo é transformar evidência em rotina: medir, registrar e avaliar desfechos para retroalimentar práticas e políticas. Com ciência acessível, profissionais podem ampliar o alcance do Guia Alimentar brasileiro e acelerar respostas efetivas às doenças crônicas não transmissíveis.

Fonte: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/dezembro/brasil-recebe-lancamento-de-serie-especial-da-revista-lancet-sobre-ultraprocessados-com-destaque-ao-guia-alimentar

Escrito por
Dr. Marcos Ladeira
Dr. Marcos LadeiraOrtopedista e Traumatologista
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